sábado, 14 de julho de 2007

EXPERIÊNCIAS DE TOSCHI AQUI NO BRASIL NO PERÍODO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Em 1939, quando teve início a segunda-guerra, eu tinha dois anos. Quando ela acabou, em 1945, eu estava para fazer oito anos. O Brasil só mandou tropas em 1943. Eu fui com meu pai a um desfile no Vale do Anhangabau, em São Paulo, onde desfilaram tropas que iam para a guerra. Estavam fardados com uniformes de campanha e levavam muares, que carregavam peças de artilharia leve, além de material de suprimento. Ouvi dizer que dalí iriam direto para o porto de Santos. Mas, pelo que eu saiba, os contingentes brasileiros partiram do Rio de Janeiro e não sei como os paulistas chegaram até lá. Lembro de minha avó, aflita, lendo o jornal que trazia a lista dos convocados, para ver se algum de seus netos estava incluido nela. Lembro que falavam da bomba atômica, aparecendo estampado nos jornais o símbolo do atómo, aqueles círculos entrelaçados, o que me deixava com bastante medo. Perto de minha casa ficava a Escola Preparatória de Cadetes do Exército, onde hoje está o prédio histórico do Hospital Sírio Libanes, na Rua Adma Jafet, e eu via os cadetes fazendo exercícios pelas ruas do bairro. Um contingente dava guarda permanente no prédio da Light, na Rua Augusta, e passavam marchando pela porta da minha casa, cada vez que havia troca da guarda, o que era uma farra para a garotada. Lembro quando irradiaram a experiência com a bomba atômica no Atol de Bikini. Os locutores diziam que a Terra poderia rachar ao meio, outros diziam que o barulho iria se espalhar de país para país, e, no fim, nada disto aconteceu, pois foi uma experiência subterrânea e a bomba não era de grande potência. Lembro das esquadrilhas de avião voando permanentemente sobre a cidade de São Paulo, em formações de quatro a cinco aviões, dentre aviões de guerra e outros menores. Lembro do dia em que anunciaram que a guerra tinha acabado, e, na verdade, era um rebate falso. O rádio pedia para os sinos das igrejas repicarem e as pessoas que tivessem carros saírem às ruas, já no início da noite, com os farois ligados. Depois, veio o desmentido.

Lembro do blackout, ninguém podia acender as luzes do interior das casas, e ninguém podia sair à rua durante o exercício, que era realizado à noite. As pessoas tinham que colocar cartolinas tapando as janelas de suas casas, para não haver perigo de qualquer luz. Meu pai chegava do serviço e jantava no escuro, com uma pequena luz de lanterna acesa embaixo da mesa. Um avião ficava rondando a cidade e davam aviso quando viam alguma luz acesa. Lembro de um aviso de que uma casa, no bairro da Casa Verde, estav iluminada. Mandavam pelo rádio que a luz fosse apagada, se não, iriam simular um bombardeio, despechando o conteúdo de sacos de areia sobre a casa. Meu tio, um dia, saiu à rua durante o blackout e foi pego por equipe da Cruz Vermelha que estava fazendo treinamento, e teve que tomar uma injeção de glicose na veia. Os alimentos e a gasolina eram racionados. Gasolina só para médicos e outras pessoas credenciadas por exercerem serviços especiais. Tinham um pequena placa, com um número, presa com fio lacrado, no radiador do carro (todos os carros, na época, tinham radiador protegido por um grade, que fazia parte da frente dos carros), para controle nos postos de abastecimento. Para comprar carne, farinha, leite, pão, as pessoas tinham cupons de racionamento e formavam-se grandes filas às portas dos estabelecimentos fornecedores. Fora disto, reinava o câmbio negro, onde a mercadoria era vendida escondida, a preços exorbitantes. Todos os carros tinham que pintar os faróis com uma tinta azul, deixando apenas uma pequena fresta, para passar a luz. Tinham também que ter uma faixa branca pintada na altura do trinco da porta e que dava a volta em todo o carro, para melhor identificação quando andassem à noite, pois a iluminação era mínima. Lembro, por fim, do dia em que os Expedicionários chegaram. Fui assistir o desfile deles chegando, do alto de um prédio na Avenida São João, onde meu tio morava. Foi uma festa emocionante.

Terminada a guerra, os expedicionários andavam fardados, com o símbolo da cobra fumando colado em seu braço. Eram tratados com respeito e orgulho. O filho do dono da venda da esquina de minha casa, para não ter que ir para a guerra, recebeu um telegrama, quando já estava no navio, no Rio de Janeiro, mentindo que a mãe dele havia morrido. Foi dispensado para o enterro. Depois, descobriram que era mentira e ele respondeu a processo e ficou preso vários anos, mesmo depois de a guerra ter acabado. Havia a campanha do ferro velho, em que pediam que as pessoas doassem objetos de ferro que possuíssem, para a fabricação de armamentos. Eu tinha um carrinho de lata, que eu adorava, e o meu pai deu o meu carrinho para a campanha do ferro velho. No dia seguinte, para minha raiva, o filho menor desse vendeiro, que tinha um posto de arrecadação, passeava pela calçada com o meu carrinho, o que me fez chorar desiludido. Meu pai quase foi preso, pois a firma onde ele trabalhava como gerente resolveu comprar combustivel no câmbio negro, o que era vedado. Só se livrou do processo porque descobriram que o combustível vendido era falsificado, não passava de solvente, não tendo, portanto, ocorrido o crime de compra de combustível proibido. Um jornalista tentou chantagear o meu pai, ameaçando publicar a foto dele no jornal, numa reportagem sobre o episódio. Meu pai não atendeu à chantagem, e o jornalista publicou a reportagem, mas, do meu pai, só aparecia um pedaço da careca, não dando para ser identificado. Guardamos o recorte do jornal até hoje. Estas são as lembranças que tenho da segunda guerra mundial.

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Toschi
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