segunda-feira, 7 de abril de 2008

VAMOS FALAR DE POLÍTICA?

Tolo é aquele que diz que "Religião e política não se discute". Tudo é discutível, contanto que as partes da discussão sejam razoáveis e racionais a ponto de entender quando seu argumento é colocado por terra. Percebe-se certa intolerância política nos debates ideológicos travados nos meios virtuais e no próprio meio estudantil. Ninguém quer ceder.

Argumentos toscos são utilizados quando eu cito que sou socialista: "Ah, mas o socialismo nunca vai acontecer", "cara, se enxerga, o socialismo não deu certo", "que coisa ultrapassada e hipócrita!"... não se aprofundam à uma argumentação plausível e baseada em críticas aos conceitos diretos da minha posição política.

Há pouco tempo me entreguei a uma reflexão sobre a diferenciação de discussão política para a discussão sobre a corrupção. De fato, estão inteiramente entrelaçadas as duas, mas tratam de matérias totalmente diferentes. Uma coisa é discutir a idéia daquele determinado político ou daquela instituição, a outra é saber a idoneidade desse indíviduo ou dessa corporação.

A discussão de idéias e a difusão delas é a que leva à um desenvolvimento da democracia. Basear-se somente em quanto o candidato é ladrão ou não sempre pode ser levado à manipulações e interesses facilmente construídos.

Claro, a discussão sobre a corrupção é MUITO necessária, e esta deve ser MUITO combatida, porém a democracia não é baseada nisso, como a mídia sensacionalista e elitista de nosso país cisma em tentar frizar.

A PERCEPÇÃO POLÍTICA POPULAR E A CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA.

Na última eleição para Presidente da República aqui no Brasil houve um discurso muito expressivo na mídia sobre o nível social das pessoas que votaram em cada um dos candidatos na segunda fase.

Claramente, esse discurso era depreciativo no que diz respeito ao vencedor, Lula, por este ter sido eleito pelas camadas baixas da população, chegando a ser exibido em rede nacional um mapa com as regiões do Brasil que o elegeram e as que tiveram maioria de votos em Alckimin. Isso dá brecha para vários outros discursos tipicamente elitistas Brasil afora.

Um desses discursos é o da falta de educação da maior parte da população para votar. Ora, é fato que não é só a educação que faz a eleição se concretizar e o melhor ou pior candidato ser eleito ou não. Certamente, a maior parte da população votou em Lula por uma questão de identificação não só com a imagem construída de "homem do povo", como também em relação aos próprios focos de atuação que o candidato, depois Presidente, supostamente basearia seu governo.

Dizer que o "povo brasileiro é burro e não sabe votar" é tentar defender abertamente uma inexistência de percepção política da população. Toda a população, a partir de sua classe social, tem idéia do que é melhor para si. É claro que o Sul e Sudeste do Brasil teriam maior votação em Alckimin (tirando o Rio de Janeiro, que sempre teve formação mais esquerdista que as outras metrópoles). São as regiões mais desenvolvidas e com o maior número de burgueses que não se atraem por essa visão de "governo para o povo", que o exato contrário são as políticas do PSDB de privatizações e concessões ao grande capital especulativo dos empresários brasileiros e do exterior.

Um grande exemplo dessa diferença de percepção é o governo do Brizola aqui no Rio. Enquanto a classe média e alta falam que o governo foi fraco e que não mudou nada, a classe baixa agradece: Brizola distribuiu posses de terra nas favelas, levou água encanada para muitas comunidades carentes, defendeu o pobre em muitas situações. Deixo bem claro que não sou Brizolista, mas achei um bom exemplo para servir como argumento.

Claro, o povo elegeu o Clodovil e vários outros candidatos inúteis para o Brasil. Mas quem disse que essa população teve tempo para aprender a votar? Ainda serão eleitos mais 10 Clodovis até a democracia se concretizar como um bom sistema de eleição - e realmente é o melhor até agora. O maior exemplo dessa inexperiência ao votar é uma pessoa que nasceu na década de 50, por exemplo. Só foi votar aos 40 anos de idade, devido ao monstruoso Regime Militar aí no meio do caminho. Não se pode comparar a democracia brasileira de 19 anos com a democracia francesa de 200. Lá eles já têm noção dos candidatos que farão mal a sua sociedade, aqui a população vai aprender, com o tempo, que Clodovil não vai levar a absolutamente nada.

Por último, é necessário salientar que a democracia não é feita somente através do voto. Existem várias outras maneiras de expressar sua cidadania, uma delas é discutindo política nos seus diversos ambientes do dia-a-dia - que, pode-se até negar, mas todos são espaços para política, pois em todos existe interação social. Pode-se também se filiar a movimentos sociais, sindicatos, instituições políticas e etc. O voto é importante, sim, mas não é a única arma para fazer nosso país melhorar.


Bruno Marconi
Troca de conhecimentos